O Brasil é o país onde mais caem raios no mundo, por isso o Fantástico, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, preparou um guia completo para você aprender a se proteger.
No segundo episódio da série ‘País dos Raios’, o especialista Osmar Pinto Junior explica a formação dos raios e como as pessoas que são atingidas conseguem sobreviver.
“A umidade do ar sobe, transforma-se em água, aí nós temos as nuvens. As gotículas de água continuam subindo, transformam-se em partículas de gelo. Aí nós temos a nuvem de tempestade. Essas partículas de gelo, batem umas nas outras. E ao baterem, por atrito, ficam carregadas eletricamente. Até que a quantidade de cargas é tão grande que o ar não consegue mais isolar. Elas acabam indo uma em direção à outra, formando uma descarga dentro da nuvem ou entre uma das cargas da nuvem e as cargas do chão, formando o raio para o chão, que nós conhecemos”, explica o especialista Osmar Pinto Junior.
Foi um desses que acertou, em cheio, o capacete do Julio. José Júlio Cézar era policial militar em Taubaté, interior de São Paulo. No dia 11 de outubro de 2011, ele voltava para casa, de moto, pela Via Dutra quando foi atingido por um raio.Thiago, Samuel e Wesley não conheciam Julio, mas pararam para socorrê-lo. Julio só acordou 5 dias depois do acidente. Quase um ano e meio depois do acidente, Julio ainda faz fisioterapia cinco vezes por semana.
O progresso é lento. Julio não trabalha mais, foi aposentado por invalidez. Perdeu a sensibilidade nas mãos, nas pernas, ficou com lapso de memória, coordenação motora.
Sobreviver a um raio certeiro é o que se costuma chamar de milagre. De modo geral, quando alguém sai com vida é porque foi atingido indiretamente, por correntes que vêm pelo solo.
Em 1996, Altair Ramos era preparador físico do São Paulo Futebol Clube. Na hora do treino da tarde do dia 28 de fevereiro, estava chovendo leve. De repente, Altair caiu no chão, foi atingido por um raio.
“A maioria dos raios começa nas nuvens e desce em direção à superfície,. Quando chegam próximo ao solo, 200 metros, 100 metros, sai uma descarga do chão para encontrar ele”, explica Osmar Pinto.
O que atingiu o Altair foi uma dessas descargas que saem do chão. Na linguagem técnica, uma descarga conectante.
Osmar explica o que aconteceu com Altair: “A maioria dos raios começa nas nuvens e desce em direção a superfície. Quando chegam próximo ao solo, sai uma descarga do chão para encontrar ele. Saiu do chão, furando o tênis, as meias dele e tudo, subiu por ele essa descarga para encontrar aquela que vinha do céu, mas felizmente não encontrou. Uma outra que subiu talvez de um pararaio próximo encontrou antes e então o raio não aconteceu nele, senão ele não teria chance de sobreviver”, diz Osmar Pinto Junior.
Para-raios é um equipamento colocado no alto de prédios para atrair as descargas elétricas.
Um prédio de 10 andares, 30 metros de altura. Lá em cima tem um para-raio. Você estará protegido até uma distância de 30 metros do prédio. Se você tiver a 50, 60 metros do prédio, aquele para-raio não tá lhe protegendo em nada.
“A finalidade do para-raio: proteger a estrutura do prédio. Só que, ao cair o raio no para-raio, o ambiente eletromagnético ao redor induz corrente em todas as fiações nas paredes do prédio. E isso chega nas tomadas”.
Não ficar perto de tomada durante tempestades. E se as pessoas dentro do prédio estão próximas às tomadas podem levar um choque . Como regra geral, você deve ficar distante de qualquer objeto ligado à rede elétrica ou à rede telefônica.
Usar celular durante uma tempestade é seguro, desde que o aparelho não esteja ligado no carregador. Uma boa ideia é tirar todos os aparelhos da tomada. Isso ajuda a proteger os eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos.
Muitos de nós associam raio a estruturas construídas pelo homem, prédios, torres, mas numa no campo, a gente também tem problema com raio.
Seu Evandro nem sabe direito onde o raio caiu. Uma pista está na cerca. O trabalho no campo, ao ar livre, é a situação em que os raios matam mais gente no Brasil. Na última década, no Brasil, morreram cerca de 1.300 pessoas atingidas por raios. E dessas 1.300, 300 mortes no campo, 300 estavam no campo. Por isso, é importante saber como se proteger.
“Evitar a primeira reação que é correr para debaixo de uma árvore para se proteger da chuva. Se tiver segurando uma enxada, alguma coisa, jogar pra longe, e ir para o meio do descampado, um lugar como aquele ali, longe das árvores, longe de cerca, longe de gado, longe de cavalo, longe de árvore. Quer dizer, longe de pontos altos e de objetos metálicos ”, aconselha Osmar.
“Outra recomendação é que se a pessoa tiver no meio do pasto, ela não vai ficar de pé, tem que se agachar, porque aí você fica com uma área de contato com o solo maior, eu tenho que ficar com os pés juntos, agachado, embora seja numa posição não confortável”, explica Osmar.
E vem do campo a história mais impressionante de raio no Brasil. É o caso do agricultor Armindo Carra, que viveu em um sítio em Antônio Prado, no Rio Grande do Sul.
Ele foi atingido por raios quatro vezes. Seu Armindo sobreviveu a quatro descargas elétricas.
Mas viveu até os 74 anos, quando foi vencido pelo câncer. Seu Armindo contradiz o mito de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Esse é um mito muito comum no Brasil. A origem é portuguesa, É que na época do império, os espelhos, os grandes espelhos, com estruturas metálicas favoreciam um raio atingi-los não pelo espelho em si, mas pela estrutura metálica. E outro ponto também que levou a esse mito é o fato de que, como o raio acontece rapidamente, é uma luz intensa, muitas vezes a pessoa tem a impressão de que o raio vem do espelho, mas, na verdade, é meramente, um reflexo. Não precisa cobrir os espelhos. Isso não ajuda em nada, diz Osmar Pinto. O que ajuda mesmo é procurar um abrigo totalmente fechado.
Será que quem está na cidade grande está mais protegido dos raios? Em princípio, você realmente está protegido, mais protegido na zona urbana de uma grande cidade do que na zona rural. Agora, por outro lado, as zonas urbanas também causam mais raios.
É que pontos altos, como arranha-céus e torres de transmissão além de atrair, produzem raios.
As cargas negativas do solo vão em direção às cargas positivas que estão dentro da nuvem de tempestade.
Neste ano, pela primeira vez no Brasil, nós conseguimos filmar um raio ascendente no Pico do Jaraguá.
O Pico do Jaraguá é o ponto mais alto da cidade de São Paulo. Ao todo, 99% dos raios caem, mas 1%, a natureza tem os seus caprichos, sobe no céu. Com câmeras especiais, é possível registrar esse e outros caprichos da natureza.
Nós percebemos raios tocando no solo em dois pontos ao mesmo tempo, uma coisa que há 10 anos atrás não se sabia que existia. Toda essa tecnologia ajuda na prevenção contra os raios.
E prevenir nesse caso, significa prever, conseguir enxergar com antecedência onde vão ocorrer tempestades elétricas, que lugares podem ser atingidos por raios.